terça-feira, fevereiro 06, 2007

Gaia

“Sempre me preocupou que, de acordo com as leis tal como as conhecemos hoje, um computador necessite de um número infinito de operações lógicas para descobrir o que está a acontecer, independentemente de quão minúscula seja uma região do espaço ou do tempo. Como pode estar a acontecer tanta coisa nesse espaço minúsculo? Porque terá que custar uma quantidade infinita de lógica para descobrir o que um minúsculo pedaço de espaço/tempo irá fazer? Assim, tenho feito regularmente a hipótesse de que ultimamente a Física não necessitará de declarações matemáticas, que no final, a maquinaria será revelada e as leis revelar-se-ão simples, tal como um tabuleiro de xadrez com todas as suas aparentes complicações.”

Richard Feynman

The Character of Physical Law



“A simplicidade da natureza não será medida da mesma maneira que medimos as nossas concepções. Infinitamente variada nos seus efeitos, a natureza é apenas simples nos seus propósitos e a sua economia consiste em produzir um grande número de fenómenos, muitas vezes complicados, através do uso de um número reduzido de leis gerais.”

Pierre Laplace

1749-1827





Gaia, nome de uma Deusa, aparecendo na mitologia grega, com origem na palavra Geia ou Gê, representando a Terra, veio a ser por sugestão de um romancista, o nome de uma das Teorias Científicas mais «inovadoras» dos nossos tempos relativamente ao modo como olhamos para este nosso mundo, como nele interagimos e como nele devemos no futuro agir; mais do que isso, Gaia permite-nos no imediato começar a compreender melhor alguns dos mecanismos que regem este mundo, e a uma escala maior, o próprio Universo.

Iniciou-se, muitos dizem, nos tempos modernos por um simples olhar pela escotilha de uma nave espacial. Estavamos nos anos 60, a exploração espacial humanizada tinha começado a dar os seus primeiros passos, e o Homem, tinha iniciado um caminho, que apesar de adormecido, será no futuro, um que ele não poderá deixar de explorar.

A primeira visão do nosso próprio planeta, veio através da famosa frase dita por Yuri Gagarin ao afirmar, quando questionado por ele, “A Terra é azul...”





Daqui, houve um adormecer claro em relação ao nosso planeta e à consciência de que este mundo era um todo, um conjunto e não apenas um aglomerado, como muitos têm tendência a colocar a questão.

Mas, o que é afinal Gaia? Proposta mais recentemente por James Lovelock, tem sido alvo de muitos: romancistas, ecologistas e até teólogos, pois a sua visão é de tal modo grande, que muitos dos actuais dogmas cairiam por terra, sem valor. Faz relembrar, de que até não há muito tempo atrás, muitos tinham a certeza de que o mundo era plano, de que a Terra era o centro do Universo. Mesmo após Copérnico ter publicado o seu modelo de um universo centrado no sol (apesar de ainda ser baseado em circunferências perfeitas) em 1543, o modelo aceite ainda era de um universo centrado na Terra. O livro de Copérnico, Revolutionibus Orbium Coelestium foi completado antes de 1530 e sujeito a discussão antes da sua publicação levando na altura a que Martin Luther fizesse o seguinte comentário: ‘Este louco deseja reverter toda a ciência da astronomia; mas as Escrituras Sagradas dizem-nos como João ordenou ao Sol para ficar parado e não à Terra.’, Copérnico responde: ‘A Bíblia mostra o caminho para o céu, mas não como o céu é.’.





Muito se caminhou desde aí, mas tem faltado algo à Ciência, que é a consciência de si mesma, a consciência sobre o que a rodeia deixando a tendência classicista de ver os problemas como um caso isolado, através de uma única matéria disciplinada.

Actualmente, essa tendência tem-se invertido, grupos de trabalho são compostos por inúmeras disciplinas, e questões são abordadas de um modo interactivo, aberto e não fechado.

Gaia, em modos simples e leigos, é a aceitação da Terra como um sistema aberto, auto-regulador, baseado na união de todos os «sub-sistemas» de que é composto, trabalhando todos estes em união para atingir o equilíbrio.

Esse equilíbrio, é então um sistema aberto, onde estão em constante interacção diversas variáveis, inúmeros sistemas, que interagindo uns com os outros, trocando entre si compostos e tarefas, conseguem então achar esse equilíbrio.

É uma visão tão simples, tão esmagadora, que é dificil de aceitar... Temos a tendência a querer «complicar» as coisas, um exemplo são algumas das nossas próprias obras, algumas das próprias máquinas criadas por nós que num ciclo de vida útil acabam por extinguirem-se. A Terra, neste exemplo de sistema aberto, aliás qualquer sistema orgânico, não funciona deste modo e até é mesmo esse continuar do seu ciclo de vida que torna o sistema, a máquina estável, onde se adquirem as condições essenciais ao funcionamento em estado óptimo.

Vejamos outro exemplo, um que tendo em conta as actuais preocupações ecológicas, se torna muito relevante, que é a interacção do Homem com o meio.





Muitos são da opinião de que não o devemos alterar, não devemos com ele interagir e sim apenas manter, adoptando uma postura de simples observação, de contenção, mas será esta noção correcta?

Na história do nosso planeta, e recuando até muito atrás, os sistemas foram sempre modificados, mas modificados de um modo contido, numa base de necessidade sem excessos, e o equilíbrio do planeta foi sempre mantido. A alteração, a interacção com o meio ambiente é inevitável, aliás mesmo necessária, a modificação dos sistemas é inevitável e tem sido até uma ferramenta que tem ajudado ao equilibrio.

Obviamente que existe um senão. Esse senão, são os excessos que são cometidos. Uma balança tem dois pratos: ao carregar um, obviamente que se pretendermos que o equilibrio seja mantido, que teremos que agir no prato simétrico. De um modo clássico, e rude, dir-se-ía que é um exemplo de acção-reacção.

Se quisessemos poderiamos extender este exemplo a uma escala maior, não nos limitando ao meio do nosso planeta. Esse exemplo é a Teoria de Gravitação Universal, explicando a força de atracção exercida por qualquer pedaço de matéria no espaço. Existe no entanto uma limitação a este exemplo, conhecido pelo Problema dos N-Corpos e que me faz perguntar: será este problema, uma questão aparecendo da tentativa de novamente ver o problema como um sistema isolado e não um conjunto de sistemas?

Assim sendo, Gaia torna-se viva, ganha um significado no nosso mundo. Os primeiros passos foram dados: a clara consciência de que a questão existe, a aceitação clara por parte da comunidade científica de que os sistemas e o equilibrio são mantidos através de trocas abertas e não fechadas (sistemas auto-reguladores), fazem-nos caminhar no caminho certo para a compreensão deste mundo e do Universo onde ele está contido.

Indo mais além, ousaria dizer que campos como o campo religioso seríam também imensamente beneficiados, ao finalmente conseguirmos achar uma consciência colectiva e trabalharmos como o todo que somos nesta máquina, neste ser que é a união de todos os outros.

Não posso deixar de sonhar e de romancear também eu esta visão, visão essa que aceito tão clara e definidamente, bastando-me para isso ter tomado consciência de mim mesmo no passado e olhar escutando o que nos rodeia.

Espero que o futuro traga uma ponderação sobre o Homem, que este consiga finalmente parar e olhar de um modo correcto, pois, como disse, os excessos poderão não conseguir serem contra-balanceados por tempo indefinido.

É uma batalha desigual, pois quando se puxa demasiado uma corda, esta eventualmente acaba por se partir. Ouçamos a nossa história, os nossos constantes erros, que nos ensinam a olhar com olhos inocentes, olhos descarregados de pretencionismo, de chavões, de arrogância e preconceitos.

Não esqueçamos estas lições...



Alguns links sobre Gaia:

http://hps.infolink.com.br/peco/nage_03.htm

http://www.healing-tao.com.br/artigos/teoriadegaia.htm

http://www.comciencia.br/reportagens/2005/11/02.shtml

http://www.gphfecb.ufba.br/Portugues/Textos/Emerg%EAncia%20de%20propriedades%20e%20teleologia%20na%20teoria%20Gaia.pdf

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Tornar reais os sonhos...

Devemos sonhar, pois a realidade é sonhar...





Este é um filme que vai directo para a minha lista de favoritos. A procura em realizar os nossos sonhos, em nos dizer que sonhar não é errado, mas sim real, faz-nos ver que devemos sempre lutar por eles, não querendo nada menos do que isso.

Se tiverem oportunidade, vejam este filme, onde o romantismo e a vida dão as mãos. Deixo duas citações retiradas dele...



"[...] tudo que não seja um amor louco e extraordinario é uma perda de tempo [...]"

"[...] já temos de lidar com demasiadas coisas mediocres na vida, o amor não deveria ser uma delas [...]"

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

A Música e Nós...

Receita para a Magia...





Vou falar de novo em música. Considero, ser, uma das maiores representações criadas pelo Homem para expressar-se a ele próprio, como ser maior, possuidor dessa alma, de que tanto falo.

Como arte, e não retirando o devido valor à escrita ou a outras formas de arte, considero ser a música o supremo esplendor desta, em formas mais simples ou em formas mais complexas, na música conseguimos achar tudo de um pouco, conseguimos achar nela todos os tipos de expressão de que a alma de um Homem pode ter durante a sua vida.

Existe maneira mais indistinta, mas ao mesmo tempo, distinta, de contar sentimentos, emoções? Penso que não, música é um ser vivo por si próprio, uma energia que flui até ao interior de nós, sem barreiras pelo meio.

Para quem escreve, como eu, a escrita torna-se um aliado da música, aliás, são os dois por natureza, companheiros, em meu ver, inseparáveis.

Como músico que fui no passado, e ainda (apesar de estar adormecido como instrumentista) sou, não posso deixar de enaltecer as melodias que nos fazem voar enquanto nos sentamos em frente a um teclado (ou outro instrumento) e deixamos o improviso vir directamente da magia em criar, em sentir e ter prazer.

Apesar disso, digo, escutem a letra numa música qualquer, e verão a realidade a vir ao de cima, os sentimentos tomarem ainda maior forma dentro de nós, ou caso estejam a escutar uma peça simplesmente instrumental, imaginem, deixem que a melodia vos conduza até lugares longíquos, ou muito perto de vós, mas imaginem a realidade a acontecer.

A música, é sem dúvida nenhuma, uma disciplina Maior, neste mundo que temos.

Finalizo este post com uma série de citações retiradas de um livro que me surpreendeu imensamente, e que já citei aqui por algumas ocasiões, é o livro "Da Felicidade" de Herman Hesse, editado pela Difel. Não deixem de o ler, e verão que acharão muito de vós dentro dele. As citações seguintes, dizem tudo sobre a música, e como nos vemos a nós nela, e ela em nós...



"[...]Mas eis que o mundo vai ao seu encontro, a melodia brota do não criado, a forma penetra o caos. Dá-se o milagre da arte, repete-se a Criação. Vozes respondem à pergunta solitária, olhares encontram a mirada interrogadora, a pulsação e a possibilidade de amar elevam-se na solidão e o primeiro homem apodera-se da dócil Terra, na alvorada da sua jovem consciência. Desabrocha nele o orgulho, e uma comoção profunda e alegre; a sua voz cresce e domina, proclamando a mensagem do amor.[...]"



"[...]E tudo se congrega, dor e prazer, e cresce e eleva-se em grandes coros, o céu abre-se e os deuses baixam os olhos consoladores para a torrente de nostalgia da humanidade. Conciliado, conquistado e em paz, o mundo paira, satisfeito e perfeito, por um doce instante[...]"