sábado, maio 12, 2007

Um olhar...

"Um encontro é sempre um início de universo

e sentir na imperfeição a perfeita coluna de cristal

do puro entendimento entre o pudor e a vibração de um segredo

queremos sempre ser mais para sermos o que não somos e o que

[somos

e por isso a palavra adianta-se na sua trémula e cintilante audácia

que se eleva no cimo do encontro em transparências novas

É sempre o outro o polo da identidade viva

e a mais segura afirmação do ser

A palavra arde porque ama porque é uma flecha verde

que se incendeia antes de tocar o alvo

e quando o atinge recebe outra amorosa flecha

que ilumina o peito amante do que fala

Que mistério puro de ardentes evidências

que lavam o rosto que perfumam os lábios

e que ondulam em voluptuosa confiança

abrindo o espaço do mundo e transformando-o em jardim!

É assim que o pão e o vinho são partilhados à mesa branca

do afectuoso diálogo sob a cúpula transparente

de uma aragem amena em que o Uno cintila

Este fermento vermelho ou azul de uma clara amizade

é um astro de centelhas cálidas num firmamento branco

Só por ele nós somos o outro de nós mesmos

e em cada rosto cintila a identidade aberta

de quem pertence a si porque pertence ao mundo"



António Ramos Rosa

8 de Fevereiro de 1993

in O Alvor do Mundo, edições quasi

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